Um poeta louco que sonha como poucos

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quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Já é dezembro



Ouço um som, parece música ou algo querendo ser música. Vejo os dias nascerem felizes e irem mais além. Percebo pessoas sofridas colecionando cicatrizes e outras com vidas mais tranquilas, finalmente satisfeitas com o que tem.

Os semblantes já não são mais os mesmos, agora o sorriso sai mais aberto do que antes. Sinto que o frio deu lugar ao calor, mas com certeza em algum canto, hoje alguém chorou.

O mundo a essa altura flerta com o submundo, ameaça com ele se fundir, para assim quem sabe, converter todos os humanos em seres espirituais, mas muitos não dão o braço a torcer, seguem seus caminhos rodando em círculos e sempre voltam para suas gaiolas emocionais.

 Agora chego perto do fim de mais uma jornada. Viajando vou caminhante sou. Ouço um som cada vez mais nítido, mas aos poucos percebo que as misturas sonoras aumentam. Distinguir o que toca nesse momento, não sou capaz.

Passaram-se meses, muitas coisas aconteceram. Dor, alegria, dúvidas, certezas, necessidades, ausências, encontros, desencontros e muito mais. Tudo isso dentro de um parêntese que se abriu em um único dia lá trás, bem no início desse período composto por um tempo voraz.

Músicas alegres ecoam, pessoas se animam e esquecem das dores. É quase época de festas, hora de repensar tudo que vivemos, agradecer por tudo que aprendemos e planejar o que virá.

Pra a grande maioria, esse é o momento para corrigir erros deixados para trás, mas o que realmente sinto, é que infelizmente não podemos quase nada fazer em tão poucos dias.

O parêntese aberto já vai se fechar, mais um ciclo em semanas se encerrará e o que irá ficar é o que fomos e fizemos na caminhada.

Como você se portou? Você evoluiu?  Você reagiu e lutou contra o que te faz mal? Você fez valer o fato de estar vivo? Ajudou a quem precisava? Você se acomodou e em vez de caminhar assistiu a mais um ano acabar?

O som parou, já não o escuto mais. Tristemente percebo que muitos ao serem indagados, não resistiram e por conta de suas respostas não cantam mais. O pior que já é dezembro, não temos tempo pra mais nada, esse ano já foi e não voltará jamais. A euforia deu lugar ao silêncio na vida de quem não lutou.

Gui Batista

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Vivi ou sonhei

Olhei para um lado, olhei para o outro e não vi ninguém, logo vi que tinha tirado a sorte grande, pois a minha frente o mar estava clássico, ondas de tudo que era jeito, ondas grandes, pequenas, direitas, esquerdas, tubulares e com muito tempo de duração.  Corri pra água e comecei a remar, passei a arrebentação com uma facilidade que até eu mesmo não acreditei e olha que o mar estava bravo. Cheguei lá fora, sentei sozinho e vi a série entrar, remei na primeira onda, dropei e logo de cara peguei o melhor tubo da  minha vida. Na segunda onda dei aéreo, floater, várias batidas, muitas rasgadas e a onda parecia não acabar.
 O dia estava realmente incrível, nem vi as horas passarem, havia entrado no mar lá pelas oito da manhã, quando saí já eram quatro da tarde e eu estava morto de fome,  mas não me sentia cansado. Procurei um restaurante, pedi um prato trivial e aguardei tomando um suco. O prato chegou e tudo estava uma delicia, o arroz, o feijão, a salada e o peixe então hum. Foi uma ótima refeição pra um surfista com fome.
Depois de me alimentar voltei pra praia, sentei na areia para fazer a digestão e notei vindo do mar, uma mulher que mais parecia uma onda, devido às curvas de seu corpo escultural e queimado de sol. Ela veio, sentou-se ao meu lado e com uma voz macia perguntou meu nome, prontamente respondi que era Cody e ela disse que ficara o dia todo ali sentada me observando dentro do mar, disse que nunca viu ninguém surfar  como eu e me encheu de elogios.
Conversamos até o anoitecer, ela se chamava Keona, vimos o sol se pôr no mar,             presenciamos a subida da lua aos céus e quando eu estava lá todo feliz ao lado daquela que pra mim apareceu como uma princesa vinda dos mares, vi uma estrela cadente cruzar o céu e como uma criança fiz um pedido em segredo, pedi em meus pensamentos aquilo que mais desejava naquele momento e como num conto de fadas, choveu estrelas quando me virei para o lado e Keona me deu um beijou junto com um abraço apertado.
Depois disso tudo, desse dia maravilhoso, fui para casa e Keona também, mas    antes combinamos de nos reencontrar outras vezes no mesmo lugar. No caminho de  regresso para o meu lar, parei para tomar um pote de açaí em uma barraca havaiana, ali no meio do beco entre a praia e a estrada do Cambury. Olhando o cardápio, notei que cada opção levava o nome de uma mulher do Havaí e logo abaixo entre parênteses havia o significado dos nomes. Escolhi o de sempre, açaí com banana e o nome me fez tremer, pois era o mesmo da princesa que há poucos minutos conquistara meu coração. Li o significado que dizia assim: “ Presente estimado por Deus”.
Esvazie o pote, deixei a barraca havaiana para trás e percebi que tudo que vivi    naquele dia foi realmente um presente de Deus. Como num passe de mágica a minha  essência se separou da minha matéria física e flutuou três metros acima de mim mesmo,  observando o andar tranquilo de um surfista feliz da vida, carregando sua prancha  em baixo do braço, vestindo ainda sua roupa de borracha, altas horas da noite por aquele   beco iluminado e abençoado.


Gui Batista    

Visões de uma caminhada



            Andando pelo caminho a pé como há muito tempo não fazia, pensei em fazer a    parada rotineira para um café, mas antes de parar, ao meu lado andando eu avistei a moça que um dia vira trabalhando na padaria, era a confeiteira. Aumentei meus passos para acompanha-la e ver de perto aquelas lindas mãos que já me encantara desde o primeiro bolo que me servira um dia.
A moça dos confeitos parecia estar com pressa, pois suas passadas eram vigorosas como as de quem tem hora marcada e não quer se atrasar. Eu, que minutos  antes andava calmo, olhando tudo ao meu redor, mudei o ritmo do caminhar, mas antes vi e senti que as ruas são mais bonitas quando se anda a pé, vi que alguns motoristas dão  passagem para pedestres, me perdi na atmosfera dos passantes que eram muitos, me atentei as varandas de duas casas geminadas na calçada esburacada que eu passava e  percebi que os pisos eram iguais, lembrei-me dos pisos que via em minha infância, era  um chão de cimento forrado de cacos de azulejos vermelhos. Essa visão me trouxe lembranças imortais. Uma lágrima de saudade quase caiu quando percebi que por pouco quase perdi de vista a confeitaria que já atravessara a praça enquanto eu ficava para trás.
Acelerei o passo e passei por um banco de madeira escuro que havia a minha frente onde dois senhores falavam sobre suas vidas e desviei de uma roda de crianças que estavam a brincar. Queria ali ficar para poder voltar mesmo que em pensamento para  uma época boa que ficou para trás, em que as brincadeiras nas praças, ruas e terrenos baldios ultrapassavam o pôr do sol e se prolongavam sempre além do combinado com   os pais, mas lembrei de que estava com outro propósito naquele momento e segui em   frente par ver alguns segundos depois a dama que adoçava minha boca com seus confeitos entrar em seu local de trabalho.
Entrei um pouco depois na Larimer Pães e Doces, vi várias mesas vazias, mas sentei em uma banqueta alta no balcão, pedi o meu café e esperei durante alguns  minutos, novos bolos chegarem à vitrine colorida.
 A reposição dos bolos e doces começou e estava sendo feita por ela, vi no seu uniforme limpíssimo, mais branco que o açúcar, um broche contendo um nome que,  prontamente li e falei em voz alta: “Joana”, ela me olhou, sorriu e perguntou-me: “o que desejas?”.   Fiz meu pedido e tentei ir além num dialogo, mas notei que já estava    atrasado  para o trabalho, retornei para a minha caminhada e vi a minha frente mais uma  jornada na academia que dava aulas, tendo em minha mente pensamentos e lembranças sobre tudo que vi, enquanto a pé eu andava, em São Paulo num fim de tarde ensolarado.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Cena final


Todos os dias, um homem ensaiava sua cena final na sacada de sua casa que ficava em cima daquele bar amarelo que sempre olhei com a cara encostada na janela frontal da academia onde eu fingia trabalhar, todas as tardes sem fazer nada, lá no bairro da Mooca tempos atrás.

Com um copo na mão, o homem se apoiava na pequena mureta que batia em sua cintura e se balançava para frente e para trás. Na época, acreditei que ele dançava alguma música, mas logo comecei a perceber um sintoma expressivo de autismo. Ele girava um liquido transparente que de longe eu não conseguia saber se era água, vodka ou alguma cachaça. Em seguida ele numa golada só, esvaziava o copo e entrava rapidamente num dos cômodos que estava logo atrás de suas costas.

Não fiquei muito tempo trabalhando naquele local que cada vez mais, parecia me levar para o fundo do poço profissional, por isso, não fui um entre vários na plateia que viu aquele homem dar um salto pra fora de sua triste rotina de ensaios e cair na gandaia no bar logo abaixo de sua casa.

Gui Batista

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Ciganos


Tendas e barracas armadas
Na beira do caminho
Em uma noite enluarada,
Música cigana ecoando no ar.

Homens, mulheres e crianças
Todos a dançar.                                               
Um povo, uma cultura,
Um laço de irmandade
Que não deixa
Aquele povo se separar,
Mesmo estando sempre
Pra lá e para cá.

Vi e senti tudo isso
Da janela de um ônibus,
Na beira da estrada
Quando estava a viajar.
Queria naquela comunidade ficar,
Com eles o mundo andar
Sem rumo e sem plano.
Me deu vontade
De ser cigano.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Liberte o pássaro azul


Abra espaço em sua mente,
Deixe pra trás o obsoleto,
Não busque no passado
Soluções para o presente.
Retire do coração 
As ataduras,
Se liberte das amarguras
E dê novo sentido a vida,
Não reviva os tempos da ditadura.
Destranque as fechaduras,
Escancare as portas
E deixe o sol entrar
Pelas brechas e aberturas.
Liberte o pássaro azul,
Que do seu peito
Sempre quis sair,
Deixe-o voar
Não seja uma pessoa dura
Como Charles Bukowski
Liberte o pássaro azul
E deixe-o voar. 

Rios que se juntam


Nas corredeiras de nossos rios,
Histórias são vividas
Da nascente até a foz
Muitas se juntam, se misturam
Se encontram e às vezes se chocam
De uma forma tão forte
Que se tornam uma só.
Histórias que se completam
E que são nossas,
Encontros e desencontros
Nos leitos dos grandes rios,
Que na verdade são nossos
Por serem nossos caminhos.

Viemos de águas seguras,
De um ventre materno.
Iniciamos com choro
A nossa jornada,
Percorremos por labirintos
Passamos por riachos,
Por ribeirões
E chegamos a grandes rios,
Sempre tendo a nossa volta
Novas histórias.
Por todo percurso
Temos grandes desafios
E uma única certeza
Jamais voltaremos
Para o início,
Onde tudo era calmo
E sabíamos que em seguida
Teríamos o conforto

De um colo.

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Antídoto para uma dor


Sem chorar
Aprendi a sentir
A lágrima escorrer
Você chegou
E me fez descobrir
Os sentidos da vida
Veio e me mostrou
As direções a se seguir

Hoje meu norte é você
E mesmo que eu tente
Não conseguirei
Desapontar o ponteiro
Da minha bussola
Que cisma
Em te querer
                                                                                           
E se hoje a lágrima
Em mim escorre
Mesmo sem eu chorar
É por que sinto
Tudo que um dia
Você sentiu

Hoje vim pra te curar
Pra ser antídoto
Das coisas que sofreu
Tudo em prol do amor
Que eu acredito
E que existe
No meu coração

E também no seu.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Tire a tampa de seu recipiente


Sempre se aprende
Algo novo
Quando se deixa
Um sentimento bom
Invadir
E se misturar
A nossa essência
Dentro de um recipiente
Que devemos manter aberto
Chamado coração.


Gui Batista

Várias saídas


Vivemos a procurar
A melhor saída
Nos labirintos da vida
Saídas escondidas
Outras bem claras
Mas que mesmo sendo claras
Trazem contrapartidas
E nos fazem pensar
Se realmente são as melhores
Para se escolher
Apenas por estarem
Fora do escuro
Fugimos sempre do desconhecido
Nunca queremos andar
Na direção do obscuro
Mas não paramos
Nunca pra pensar
Que lá podemos encontrar
A luz que escondida
Ainda vive a nos esperar
Pra se renovar
E assim mais uma vez
Nos incendiar
E nos impulsionar
Pelos labirintos

Dessa louca vida.

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Novamente se acendeu


A chama que no passado
Se apagou
Hoje outra vez acendeu
Cresce rápido e sem parar
Faz arder nosso interior
Sentimento esquecido
Ontem parecia extinto
Agora se revigorou
É a velha chama que retorna
E nos mostra
Que tudo se renova
E ela se renovou

Chama viva
Que vivia apagada
Se acendeu
Nunca morreu
Novamente acesa
Faz arder
Corações que endureceram
Mas aos poucos
Começam a derreter.

Gui Batista 

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Visita recorrente

O cheiro do passado
Novamente
Veio me visitar
Fingiu ser ele
Do presente
Me deixou feliz
Me fez contente
Mas lá pelas tantas
Ele sem se  despedir
Se mandou daqui
Me deixou triste
Sem saber
E eu sem perceber
Deixei-o partir
Sem perguntar
De onde ele veio
E em qual parte do caminho
Que eu o senti
Nessa minha vida
Sem roteiro

Gui Batista

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Plante a paz


Plante a paz em seu coração
Não queira o mal
Só pense no bem
Ame seu irmão
Seja a transformação
Que o mundo quer ver
Tenha em sua mente
Um plano
Não viva só por viver
Abrace as oportunidades
Que aparecem pra você
Tenha em sua mente
Um plano
Mesmo que ele seja
Somente a vida viver
Plante paz no coração
E veras o bem a sua volta

Crescer e florescer.

Verdades ditas

As verdades são ditas 
Por pessoas que te amam
E só querem o melhor pra sua vida
Caso contrário não perderiam 
Tempo e lágrimas 
Observando e analisando
Qual seria a melhor saída
E a melhor saída era:
As verdades serem ditas.

Ato principal

Na hora do ato principal 
O palco se moveu 
Sem ninguém perceber 
As cenas de nossas vidas 
Continuaram a nos entreter 
Ao findar do espetáculo 
Tudo estava fora do lugar 
E eu vi algo novo 
Entre nós acontecer.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Dia estranho


Estranho dia
Se mostrou desde o início.
Minha Veloz mente
Se rende, mas rápido se levanta.

Hoje tudo parece fora do lugar,
Amanhã tudo muda
E as coisas se acertam.
Desespero depois calmaria,
Sintomas da modernidade,
Que atinge principalmente
Pessoas de grandes cidades,
Onde o dinheiro é  a prioridade.

Uns se entregam,
Caem em depressão
E a solução é o remédio
Outros persistem
E o remédio é o amanhã.

Estranho dia,
Se foi, ficou pra trás.
O amanhã chegou,
Hoje tudo está normal
E a paz se restaurou.

Gui Batista 

O vagabundo e a dama das flores


Entre todas as flores caídas ao chão, 
A mais linda e mais viva era você. 
Sabia que naquele dia
Você estava leve e feliz, 
Agora percebo que as flores 
Te carregavam.
Hoje delas me faço aprendiz
Quem sabe assim
Um dia também te faço feliz.

Gui Batista

quarta-feira, 16 de julho de 2014

Não consegui me desfazer

Ensaiei um jeito de não pensar 
tanto em você, 
mas na hora de atuar,
não consegui
me desfazer da realidade 
e desisti de pelo menos por um segundo 
te esquecer.

Enjoei de quase tudo nessa vida


Me enjoei de muita coisa, 
De quase tudo que é demais
E larguei por aí 
Nos caminhos dessa vida
Todo exagero que vivi. 

Muito do mesmo já não me satisfaz, 
Me libertei, 
Mas percebi, o que me enjoa agora
É a falta que você me faz. 

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Escravos assalariados

Subjulgados escrevos assalariados,
São inertes, mas ao mesmo tempo falam
E são ignorados.
Ordens são ditas descumprindo o combinado
E por conta da grana a desgraça que engana
O trabalho escravo continua de forma invariável.

Pessoas são submissas a chefes autoritários
E nada é como deveria ser,
Se estamos só de passagem por esse mundo,
Deveriamos passar bem,
Mas o que acontece é o contrário.

E o pior é que eu um dia ouvi dizer que algo desaparece
Para outra coisa poder existir,
Mas o que vejo é a velha escravidão
Sempre viva a persistir.

Gui Batista

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Findou o que era para não ter fim


Momentos derradeiros,
Vem à angústia
E bate o desespero.

Meu porto seguro na noite,
Minha casa, meu bar
E agora, onde será?

É o fim, ou é o começo?
Tento aliviar o que sinto
E penso em um recomeço.
Preciso tirar esse nó do peito.

Últimos dias, últimas horas,
Primeiros dias, primeiras horas,
Tudo junto como se fosse possível.
Meu pensamento acelera,
Vai ao início e volta ao fim.
Que história! Quantas rezas!
Que luz! Quantas velas!

Tenho que aceitar
Que tudo passou.
Não consigo acreditar,
Mas meu coração e minha mente
Deram as mãos,
Juntaram-se a emoção e a razão         
E agora parecem me carregar,
Acho que pra sempre
Nesse lar vão me aprisionar.
Muito do que sou
Saiu desse bar,
Pois sou parte
Dessa família
E se esse é mesmo o fim,
Só o que eu quero
É que esse dia termine bem.
Família Reza Vela
Pra sempre estarei com vocês.
Amém.                                           


segunda-feira, 9 de junho de 2014

Curta a vida


Quanto tempo você pensa
Que vai durar a sua vida?
Quanto tempo você acha
Que vai demorar
Pra se acertar?
Não demore pra viver,
Pois a vida passa,
Ela é muito curta,
Acaba sem ninguém perceber
E sem você saber as respostas
Das perguntas que um dia
Fizeram pra você.

Gui Batista


quinta-feira, 29 de maio de 2014

O envolvimento que não aconteceu


Noite longa
E ao mesmo tempo curta.
O meu olhar
Tudo apura,
O tempo passa,
Me vem às rugas,
A vida vai
E você também.

Para ti minha atenção
Se volta.
Eu me revolto
Por não conseguir,
Sua essência absorver
Com o meu olhar
E não poder te compreender
Antes de novamente
Barreiras nos distanciar
Findando assim
O envolvimento,
Que não aconteceu.


quarta-feira, 21 de maio de 2014

A moça que comprava bolsas e o vendedor de livros


A moça que comprava bolsas

Saiu do trabalho, andou pela cidade e acabou entrando em uma loja, entrou por que não aguentou só olhar pela vitrine lindas bolsas sem tocá-las. Pegou uma por uma, analisou os compartimentos internos, abriu e fechou todos os zíperes e desabotoou todos os botões. 

A vendedora chegou e lhe perguntou: - “Olá posso ajudar? Temos muitas bolsas e todas são de ótima qualidade e pelo que vi, muitas combinam com você”.

A moça sem saber o que falar, simplesmente concordou e disse que também achou que todas as bolsas que ela havia experimentado, eram perfeitas e realmente combinavam com ela, mas infelizmente não levaria nenhuma.

Despediu-se da vendedora, saiu e foi para casa com uma ideia fixa na cabeça, a de comprar mais duas bolsas para aumentar sua coleção que já contava com mais de quarenta, mas pra isso teria que esperar o cartão de crédito virar.

Enquanto o dia da compra não chega, a cor vira dúvida, ela não sabe, mas acha que será uma azul e outra branca.

Não aguentando esperar, ela comenta com alguém sobre sua louca vontade de comprar tais acessórios. O sujeito que ouve atentamente sobre as vontades daquela mulher um vendedor de livros que sem saber o que dizer apenas disse: - “Você é linda”.

Cada um foi para um canto da cidade, mas pelo que parecia, aquele não seria o único encontro da moça das bolsas e do vendedor de livros.

O vendedor de livros

Naquele mesmo dia Jorge saiu de casa muito cedo como de costume, pegou seu ônibus lotado e em pé durante todo o percurso, foi observando o casario acinzentado e os prédios comerciais com pequenas placas acima das portas, cruzou a cidade e finalmente depois de duas horas chegou ao seu destino.

Já na empresa depois de uma caminhada depois do transporte público incomodo, ele passa o seu cartão para registrar sua entrada que está atrasada em dez minutos mesmo tendo ele saído de sua casa quase três horas antes. Pega seu roteiro do dia, entra no carro da empresa e sai, visita todos os clientes, no fim do dia percebe que acabou o serviço mais cedo e nessa hora percebe que poderá passar em uma livraria.

Na livraria ele viaja entre os livros e inicia uma séria analise sobre sua vida. Percebeu que nunca teve muito tempo para ler os livros que sempre quis ler e nunca teve dinheiro para comprar os mesmos, lembrou de quando iniciou sua carreira como vendedor de livros e viu que se enganou ao pensar que em tal emprego teria possibilidade de mudar sua sina por estar no meio da literatura.

Jorge vendia livros didáticos e seu sonho era outro, ele queria a poesia, os romances, os contos e as crônicas da literatura brasileira e também da estrangeira. Nunca conseguiu se dedicar à leitura, mas gostava de escrever e escrevia desde criança.

Na livraria Jorge parecia uma criança perdida em um parque de diversões, não sabia por onde começar, pegava vários livros na mão, lia o prefácio, devolvia na prateleira e pegava outro, andava pelos corredores e quando algum funcionário oferecia ajuda, ele simplesmente agradecia e continuava perdido naquele labirinto de cultura.

Ele ouviu o tic tac do grande relógio de parede e notou que estava na hora de voltar para empresa, devolver o carro e encarar o retorno para casa. Parou em uma cafeteria do shopping, pediu um expresso e como não tinha mesa vaga, se sentou ao lado de uma linda moça com aparência triste.

Pediu licença e sentou já tentando iniciar uma conversa. Ela abriu um sorriso e se apresentou: “Oi me chamo Jana e você?”.

As primeiras impressões

Jana e Jorge se falaram pouco, pois ambos estavam atrasados e cada um seguiu seus caminhos rumo ao fim do dia. Ela foi para casa pensando nas bolsas que não pode comprar e ele nos livros que não vendeu.

Já no ônibus Jorge fez uma analise sobre a moça que conhecera, olhou para o número de telefone que ela lhe passou e quase o decorou, lembrou durante todo o percurso de como ela era bonita e simpática, mas algo ficou marcada em sua cabeça e ele repetia para si mesmo: “Tão bonita, simpática e elegante, mas louca por bolsas”. Logo a primeira impressão que ficou foi a de que ela era uma mulher com desejos tolos e que só pensava em bens materiais.

Jana já em casa lembrou-se de cada passo que deu naquela tarde antes de Jorge sentar-se a sua mesa, lembrou das bolsas, das vendedoras, das pessoas pra lá e pra cá nos corredores do shopping e em meio a todas essas lembranças, viu alguém perdido em meio aos livros, alguém que parecia querer ser socorrido por estar diante de um abismo e como se estivesse fugindo, encontrou abrigo naquele lugar onde tudo cheirava café.

Um viu no outro, qualidades e defeitos. Cada um ao seu modo fez seu próprio julgamento e acabaram por se autocondenarem e a sentença foi o esquecimento por se acharem incapazes de serem importantes uma para o outro.

O telefone de Jana não tocou. Jorge sem querer se distanciou mesmo antes de se aproximar. Semanas se passaram e a fita invisível que naquela tarde uniu por um instante aquelas duas almas, parecia que jamais se transformaria em um laço e tudo por causa do descaso e do preconceito ocasionados pelas primeiras impressões.

O reencontro

Em uma noite de sexta, Jorge saiu de casa sozinho, dirigiu pelas ruas, cruzou bairros e vilarejos, chegou ao seu destino no extremo leste após ver as margens das ruas em que passava, pessoas com aspectos lúgubres e aparentando cansaço após uma semana de trabalho, transito e poluição na cidade que escraviza os seus e os que vieram de longe esperando encontrar em São Paulo um futuro glorioso que quase nunca se mostra, nem para seus filhos legítimos , muito menos para os bastardos.

Seu destino era um bar, aconchegante e simples mais parecido com uma casa, um portão de grade, uma escada estreita e lá em cima um pequeno salão, uma varanda com sofás coberta por um toldo, um palquinho, um balcão, algumas mesas e banquetas e ao fundo uma cozinha onde são preparados caldos e porções.

Nesse dia, no palco um trio tocava forró universitário, mas em outros dias lá também se ouvia reggae, jaz, blues, groove e até poesias em noites de saraus.

Jorge entrou no Oyagiban Bar e logo encontrou alguns amigos, já não estava mais sozinho. Encostou no balcão e pediu uma cerveja e por não saber dançar só ficou ouvindo o som.

Nesse momento em um bairro vizinho, duas amigas inseparáveis se aprontavam para saírem e esquecerem o estresse da semana. Partiram de suas casas com o mesmo destino de Jorge, lá chegaram e encostaram-se ao balcão.

Como obra do destino, no mesmo lugar estavam juntos novamente, o vendedor de livros e a moça que comprava bolsas. Ela olhou para ele e disse: “Você nunca veio aqui né? Você não parece com o pessoal que vem aqui!” Ele respondeu: “Sempre venho aqui, venho sempre nas noites de quintas e até recito algumas poesias que escrevo”.

Os dois conversaram, se conheceram realmente e decidiram se encontrar outras vezes. Jorge viu que a moça não era só uma amante das bolsas, ela também era culta e conhecia mais de literatura do que ele, ouviu Jana falar dos autores que já leu e que quer ler e enquanto ela falava de Charles Bukowski, Dostoievski, William Burroughs, Jack Keroac, Jorge Amado, Machado de Assis, Paulo Leminski entre outros consagrados escritores e poetas do Brasil e do mundo ele percebeu que errou ao pensar tudo que pensou a respeito dela e nesse instante pra ela se entregou e desfez a cara fechada.

Ela o abraçou e viu que Jorge era um homem de valor, viu também que ele tinha uma cara de bravo, mas percebeu que era apenas uma forma de se proteger do mundo que um dia o roubara de sua inocência.

Jana se entregou, mas aos poucos se transformou, nem ela e nem Jorge entenderam o que impediu a construção de um laço entre eles. O tempo passou, brigas sem razões aconteceram e os dois que tentavam ficar juntos se perderam nas curvas da vida.

A moça juntou as bolsas que em toda sua vida comprou, ao vendedor as entregou e disse: “ Não preciso mais disso tudo, aproveite delas o conteúdo e a elas dê o fim que julgar correto”. Se despediu e sumiu no mundo, foi embora para outro estado, hoje mora em Petrolina.

Jorge pegou as bolsas e as abriu, se surpreendeu quando viu em cada uma dez livros e na última uma mensagem de despedida dizendo: “Esses são os mil livros que li antes de te conhecer, nosso caso foi muito breve, mas tenho medo de mim mesmo quando penso no que sinto por você, aceite de coração esse meu pedido de desculpas e me perdoe por ter te forçado a ficar impassível diante do dragão que me tornei”.

Jorge nunca mais viu Jana, mas ainda espera reencontra-la para dizer o quanto ela foi importante para ele e que na verdade ela nunca foi um dragão, muito pelo contrário, ela em sua vida foi inspiração.

Rato ou humano


O dia amanheceu pálido
E alguém lá em cima
Chorava uma garoa
Que caía devagar.
Árvores se destacavam
Num fundo enevoado
Que lembrava a solidão
Do poeta que andava só,
Pelos seus caminhos
Por dentro da selva de pedra
E mesmo assim, ele tentava
Por um momento se alegrar.
Sorriu por estar vivo,
Mas depois chorou.

O poeta viu dois ratos
Com corpos de humano,
Roubando um caixa eletrônico
Do Banco do Brasil
E se deu conta, que de ratos
Eles não tinham nada,
Pois eram realmente humanos
Em plena decadência,
Cada vez mais, por dinheiro
Se deteriorando
E enquanto isso
Alguém lá em cima,
Uma garoa chorava
Às seis da manhã.

Gui Batista

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Resposta a uma Poeta

Resposta a uma Poeta 

Realmente você mudara,

Hoje é mulher formada.
O tempo passou 
E te amadureceu.

Das antigas tardes melancólicas,

O que lhe restou foi a inteligência 
E a beleza que com os anos
Aumentaram e continuam a aumentar.

A inspiração não se foi,
Apenas dorme
E você é capaz.

Se permita e escreva,
Se mostre ao mundo,
Poeta Elis, você é demais.

Visões de uma caminhada


Andando pelo caminho a pé como há muito tempo não fazia pensei em fazer a parada rotineira para um café, mas antes de parar, ao meu lado andando eu avistei a moça que um dia vira trabalhando na padaria, era a confeiteira. Aumentei meus passos para companha-la e ver de perto aquelas lindas mãos que já me encantara desde o primeiro bolo que comi feito por ela.

A moça dos confeitos parecia estar com pressa, pois suas passadas eram vigorosas como as de quem tem hora marcada e não quer se atrasar. Eu que minutos antes andava calmo olhando tudo ao meu redor, mudei o ritmo do caminhar, mas antes vi e senti que as ruas são mais bonitas quando se anda a pé, vi que alguns motoristas dão passagem para pedestres, me perdi na atmosfera dos passantes que eram muitos, mas me atentei nas varandas de duas casas geminadas na calçada esburacada que eu passava e percebi que os pisos eram iguais, lembrei-me dos pisos que via em minha infância, era um chão de cimento forrado de cacos de azulejos vermelhos, essa visão me trouxe lembranças imortais. Uma lágrima de saudade quase caiu quando percebi que por pouco ia me perdendo da confeitaria que já atravessara a praça e eu ia fincando para trás.

Acelerei o passo e passei por um banco de madeira escuro que havia a minha frente onde dois senhores falavam sobre suas vidas, desviei de uma roda de crianças que estavam a brincar. Queria ali ficar para poder voltar mesmo que em pensamento para uma época boa que ficou para trás, época que as brincadeiras nas praças, ruas e terrenos baldios ultrapassavam o pôr do sol e se prolongavam sempre além do combinado com os pais, mas lembrei que estava com outro propósito naquele momento e segui em frente par ver alguns segundos depois a dama que adoçava minha boca com seus confeitos entrar na padaria.

Entrei um pouco depois na Larimer Pães e Doces, vi várias mesas vazias, mas sentei em um banco alto no balcão, pedi o meu café e esperei durante alguns minutos novos bolos chegarem à vitrine colorida.

A reposição dos bolos e doces começou e estava sendo feita por ela, vi no seu uniforme limpíssimo, mais branco que o açúcar, um broche contendo um nome que prontamente li e falei em voz alta: “Joana”, ela me olhou, sorriu e perguntou-me: “o que desejas?”. Fiz meu pedido e tentei ir além num dialogo com ela, mas notei que já estava atrasado para o trabalho, retornei para a minha caminhada e vi a minha frente mais uma jornada de trabalha tendo em minha mente pensamentos e lembranças sobre tudo que vi, enquanto a pé eu andava em São Paulo num fim de tarde ensolarado.

Gui Batista

quinta-feira, 8 de maio de 2014

O que vivi em um sonho


Despertei de um cochilo no fim de uma sonolenta manhã de quinta feira depois de já ter dado aula as seis, fato que me forçara a sair da cama às cinco horas da madruga, antes mesmo de eu ter deixado o sono que me persegue há dias ir embora.
Acordei novamente e dessa vez um pouco assustado com um longo sonho que tive em alguns minutos de sonos que pareciam eternos. Sonhei que me rendia ao capitalismo e me vi com aquela sede de ganhar dinheiro a qualquer custo que nos é imposta para que possamos ser iguais uns aos outros nesse mundo de fachadas em que vivemos.
Quis e consegui uma fortuna, como eu não sei, mas consegui e por incrível que pareça minha vida mudou, flutuei e me vi do alto, eu era um jovem em rápido processo de envelhecimento, roupas cinza, acho que era um terno cobrindo um corpo que se modificava dando origem aparência repugnante e a uma barriga protuberante.
Percebi que, ao mesmo tempo em que eu me arrastava pela selva de pedra, ela se arrastava para dentro de mim, meu antigo jeito manso e doce que não via maldade em quase nada, foi endurecendo e dando lugar a um ser com uma face lânguida, coração gélido e  pensamentos que eu nunca antes havia pensado.
Os intermináveis minutos de cochilo quase foram interrompidos por mim, antes de eu ao menos saber onde aquilo que eu tinha me tornado ia chegar, mesmo sonhando lembrei que precisava raspar a cabeça para tentar disfarçar os fios brancos que já brotavam como gramas albinas em meio a meus cabelos pretos.
O sonho continuou por um minuto que se perdeu na imensidão do tempo, pois nunca chegara ao fim e assim pude ver que por conta de uma coisa que nunca quis como prioridade na vida, eu envelhecia e mudava minhas essências. Vi lá do alto meu corpo irreconhecível, não mais andando e sim cambaleando, com notas de dinheiro transbordando dos bolsos traseiros das calças, eu estava indo atrás de amor e carinho, coisa que há muito tempo não via, mas não achei em nenhum lugar e estava prestes a entrar em um...
Acordei por pensar que já estava atrasado para ir trabalhar e antes do minuto perdido achar o caminho do fim, me precipitei e o sonho encerrei sem saber onde entrei. Na verdade atrasado não estava e ao acordar constatei que mal havia dormido.
Analisei e reanalisei tudo que sonhei e cheguei à conclusão que é melhor viver do jeito que estou vivendo, sem muito dinheiro, mas com muita paz e amor. Não precisamos de muito dinheiro, só do suficiente.


terça-feira, 29 de abril de 2014

Cheiro do passado

Hoje senti um cheiro de passado,
Lembranças vieram à mente
Não muito claras,
Mas fizeram meu coração acelerar.
Que cheiro era esse,
Que me fez 
Num momento de nostalgia entrar?
Sem saber ao certo 
Do que me lembrei,
Saudades de que não sei,
Pode ser de amores largados
De amigos afastados talvez.

Nunca saberei 
O que o cheiro 
Me fez lembrar,
Mas uma coisa é certa,
Me emocionei
E deu vontade de chorar.

Já não somos o que fomos


Se um pensamento brotou
E hoje virou poesia,
É por que houve evolução
E apenas pensamento
Já não é mais.

Se uma criança não sabia ler,
Nem escrever
E hoje tudo isso faz,
É por que aprendeu
E analfabeta
Já não é mais.

Se ontem você era novo
O tempo veio, passou
E te envelheceu,
Novo já não é mais.

Se viemos dos macacos
E eles são nossos ancestrais
Tudo bem,
Mas hoje iguais a eles
Já não somos mais.

Evoluímos e nos transformamos,
Somos todos iguais,
Mas ainda não nos aceitamos
E por isso nos tornamos
Um para os outros
Armas letais
E acabamos por regredir
Por não querer entender
Que já não somos mais
O que fomos.