Todos os dias, um homem ensaiava sua cena final na sacada de sua casa que ficava em cima daquele bar amarelo que sempre olhei com a cara encostada na janela frontal da academia onde eu fingia trabalhar, todas as tardes sem fazer nada, lá no bairro da Mooca tempos atrás.
Com um copo na mão, o homem se apoiava na pequena mureta que batia em sua cintura e se balançava para frente e para trás. Na época, acreditei que ele dançava alguma música, mas logo comecei a perceber um sintoma expressivo de autismo. Ele girava um liquido transparente que de longe eu não conseguia saber se era água, vodka ou alguma cachaça. Em seguida ele numa golada só, esvaziava o copo e entrava rapidamente num dos cômodos que estava logo atrás de suas costas.
Não fiquei muito tempo trabalhando naquele local que cada vez mais, parecia me levar para o fundo do poço profissional, por isso, não fui um entre vários na plateia que viu aquele homem dar um salto pra fora de sua triste rotina de ensaios e cair na gandaia no bar logo abaixo de sua casa.
Gui Batista
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