Um poeta louco que sonha como poucos

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quinta-feira, 29 de maio de 2014

O envolvimento que não aconteceu


Noite longa
E ao mesmo tempo curta.
O meu olhar
Tudo apura,
O tempo passa,
Me vem às rugas,
A vida vai
E você também.

Para ti minha atenção
Se volta.
Eu me revolto
Por não conseguir,
Sua essência absorver
Com o meu olhar
E não poder te compreender
Antes de novamente
Barreiras nos distanciar
Findando assim
O envolvimento,
Que não aconteceu.


quarta-feira, 21 de maio de 2014

A moça que comprava bolsas e o vendedor de livros


A moça que comprava bolsas

Saiu do trabalho, andou pela cidade e acabou entrando em uma loja, entrou por que não aguentou só olhar pela vitrine lindas bolsas sem tocá-las. Pegou uma por uma, analisou os compartimentos internos, abriu e fechou todos os zíperes e desabotoou todos os botões. 

A vendedora chegou e lhe perguntou: - “Olá posso ajudar? Temos muitas bolsas e todas são de ótima qualidade e pelo que vi, muitas combinam com você”.

A moça sem saber o que falar, simplesmente concordou e disse que também achou que todas as bolsas que ela havia experimentado, eram perfeitas e realmente combinavam com ela, mas infelizmente não levaria nenhuma.

Despediu-se da vendedora, saiu e foi para casa com uma ideia fixa na cabeça, a de comprar mais duas bolsas para aumentar sua coleção que já contava com mais de quarenta, mas pra isso teria que esperar o cartão de crédito virar.

Enquanto o dia da compra não chega, a cor vira dúvida, ela não sabe, mas acha que será uma azul e outra branca.

Não aguentando esperar, ela comenta com alguém sobre sua louca vontade de comprar tais acessórios. O sujeito que ouve atentamente sobre as vontades daquela mulher um vendedor de livros que sem saber o que dizer apenas disse: - “Você é linda”.

Cada um foi para um canto da cidade, mas pelo que parecia, aquele não seria o único encontro da moça das bolsas e do vendedor de livros.

O vendedor de livros

Naquele mesmo dia Jorge saiu de casa muito cedo como de costume, pegou seu ônibus lotado e em pé durante todo o percurso, foi observando o casario acinzentado e os prédios comerciais com pequenas placas acima das portas, cruzou a cidade e finalmente depois de duas horas chegou ao seu destino.

Já na empresa depois de uma caminhada depois do transporte público incomodo, ele passa o seu cartão para registrar sua entrada que está atrasada em dez minutos mesmo tendo ele saído de sua casa quase três horas antes. Pega seu roteiro do dia, entra no carro da empresa e sai, visita todos os clientes, no fim do dia percebe que acabou o serviço mais cedo e nessa hora percebe que poderá passar em uma livraria.

Na livraria ele viaja entre os livros e inicia uma séria analise sobre sua vida. Percebeu que nunca teve muito tempo para ler os livros que sempre quis ler e nunca teve dinheiro para comprar os mesmos, lembrou de quando iniciou sua carreira como vendedor de livros e viu que se enganou ao pensar que em tal emprego teria possibilidade de mudar sua sina por estar no meio da literatura.

Jorge vendia livros didáticos e seu sonho era outro, ele queria a poesia, os romances, os contos e as crônicas da literatura brasileira e também da estrangeira. Nunca conseguiu se dedicar à leitura, mas gostava de escrever e escrevia desde criança.

Na livraria Jorge parecia uma criança perdida em um parque de diversões, não sabia por onde começar, pegava vários livros na mão, lia o prefácio, devolvia na prateleira e pegava outro, andava pelos corredores e quando algum funcionário oferecia ajuda, ele simplesmente agradecia e continuava perdido naquele labirinto de cultura.

Ele ouviu o tic tac do grande relógio de parede e notou que estava na hora de voltar para empresa, devolver o carro e encarar o retorno para casa. Parou em uma cafeteria do shopping, pediu um expresso e como não tinha mesa vaga, se sentou ao lado de uma linda moça com aparência triste.

Pediu licença e sentou já tentando iniciar uma conversa. Ela abriu um sorriso e se apresentou: “Oi me chamo Jana e você?”.

As primeiras impressões

Jana e Jorge se falaram pouco, pois ambos estavam atrasados e cada um seguiu seus caminhos rumo ao fim do dia. Ela foi para casa pensando nas bolsas que não pode comprar e ele nos livros que não vendeu.

Já no ônibus Jorge fez uma analise sobre a moça que conhecera, olhou para o número de telefone que ela lhe passou e quase o decorou, lembrou durante todo o percurso de como ela era bonita e simpática, mas algo ficou marcada em sua cabeça e ele repetia para si mesmo: “Tão bonita, simpática e elegante, mas louca por bolsas”. Logo a primeira impressão que ficou foi a de que ela era uma mulher com desejos tolos e que só pensava em bens materiais.

Jana já em casa lembrou-se de cada passo que deu naquela tarde antes de Jorge sentar-se a sua mesa, lembrou das bolsas, das vendedoras, das pessoas pra lá e pra cá nos corredores do shopping e em meio a todas essas lembranças, viu alguém perdido em meio aos livros, alguém que parecia querer ser socorrido por estar diante de um abismo e como se estivesse fugindo, encontrou abrigo naquele lugar onde tudo cheirava café.

Um viu no outro, qualidades e defeitos. Cada um ao seu modo fez seu próprio julgamento e acabaram por se autocondenarem e a sentença foi o esquecimento por se acharem incapazes de serem importantes uma para o outro.

O telefone de Jana não tocou. Jorge sem querer se distanciou mesmo antes de se aproximar. Semanas se passaram e a fita invisível que naquela tarde uniu por um instante aquelas duas almas, parecia que jamais se transformaria em um laço e tudo por causa do descaso e do preconceito ocasionados pelas primeiras impressões.

O reencontro

Em uma noite de sexta, Jorge saiu de casa sozinho, dirigiu pelas ruas, cruzou bairros e vilarejos, chegou ao seu destino no extremo leste após ver as margens das ruas em que passava, pessoas com aspectos lúgubres e aparentando cansaço após uma semana de trabalho, transito e poluição na cidade que escraviza os seus e os que vieram de longe esperando encontrar em São Paulo um futuro glorioso que quase nunca se mostra, nem para seus filhos legítimos , muito menos para os bastardos.

Seu destino era um bar, aconchegante e simples mais parecido com uma casa, um portão de grade, uma escada estreita e lá em cima um pequeno salão, uma varanda com sofás coberta por um toldo, um palquinho, um balcão, algumas mesas e banquetas e ao fundo uma cozinha onde são preparados caldos e porções.

Nesse dia, no palco um trio tocava forró universitário, mas em outros dias lá também se ouvia reggae, jaz, blues, groove e até poesias em noites de saraus.

Jorge entrou no Oyagiban Bar e logo encontrou alguns amigos, já não estava mais sozinho. Encostou no balcão e pediu uma cerveja e por não saber dançar só ficou ouvindo o som.

Nesse momento em um bairro vizinho, duas amigas inseparáveis se aprontavam para saírem e esquecerem o estresse da semana. Partiram de suas casas com o mesmo destino de Jorge, lá chegaram e encostaram-se ao balcão.

Como obra do destino, no mesmo lugar estavam juntos novamente, o vendedor de livros e a moça que comprava bolsas. Ela olhou para ele e disse: “Você nunca veio aqui né? Você não parece com o pessoal que vem aqui!” Ele respondeu: “Sempre venho aqui, venho sempre nas noites de quintas e até recito algumas poesias que escrevo”.

Os dois conversaram, se conheceram realmente e decidiram se encontrar outras vezes. Jorge viu que a moça não era só uma amante das bolsas, ela também era culta e conhecia mais de literatura do que ele, ouviu Jana falar dos autores que já leu e que quer ler e enquanto ela falava de Charles Bukowski, Dostoievski, William Burroughs, Jack Keroac, Jorge Amado, Machado de Assis, Paulo Leminski entre outros consagrados escritores e poetas do Brasil e do mundo ele percebeu que errou ao pensar tudo que pensou a respeito dela e nesse instante pra ela se entregou e desfez a cara fechada.

Ela o abraçou e viu que Jorge era um homem de valor, viu também que ele tinha uma cara de bravo, mas percebeu que era apenas uma forma de se proteger do mundo que um dia o roubara de sua inocência.

Jana se entregou, mas aos poucos se transformou, nem ela e nem Jorge entenderam o que impediu a construção de um laço entre eles. O tempo passou, brigas sem razões aconteceram e os dois que tentavam ficar juntos se perderam nas curvas da vida.

A moça juntou as bolsas que em toda sua vida comprou, ao vendedor as entregou e disse: “ Não preciso mais disso tudo, aproveite delas o conteúdo e a elas dê o fim que julgar correto”. Se despediu e sumiu no mundo, foi embora para outro estado, hoje mora em Petrolina.

Jorge pegou as bolsas e as abriu, se surpreendeu quando viu em cada uma dez livros e na última uma mensagem de despedida dizendo: “Esses são os mil livros que li antes de te conhecer, nosso caso foi muito breve, mas tenho medo de mim mesmo quando penso no que sinto por você, aceite de coração esse meu pedido de desculpas e me perdoe por ter te forçado a ficar impassível diante do dragão que me tornei”.

Jorge nunca mais viu Jana, mas ainda espera reencontra-la para dizer o quanto ela foi importante para ele e que na verdade ela nunca foi um dragão, muito pelo contrário, ela em sua vida foi inspiração.

Rato ou humano


O dia amanheceu pálido
E alguém lá em cima
Chorava uma garoa
Que caía devagar.
Árvores se destacavam
Num fundo enevoado
Que lembrava a solidão
Do poeta que andava só,
Pelos seus caminhos
Por dentro da selva de pedra
E mesmo assim, ele tentava
Por um momento se alegrar.
Sorriu por estar vivo,
Mas depois chorou.

O poeta viu dois ratos
Com corpos de humano,
Roubando um caixa eletrônico
Do Banco do Brasil
E se deu conta, que de ratos
Eles não tinham nada,
Pois eram realmente humanos
Em plena decadência,
Cada vez mais, por dinheiro
Se deteriorando
E enquanto isso
Alguém lá em cima,
Uma garoa chorava
Às seis da manhã.

Gui Batista

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Resposta a uma Poeta

Resposta a uma Poeta 

Realmente você mudara,

Hoje é mulher formada.
O tempo passou 
E te amadureceu.

Das antigas tardes melancólicas,

O que lhe restou foi a inteligência 
E a beleza que com os anos
Aumentaram e continuam a aumentar.

A inspiração não se foi,
Apenas dorme
E você é capaz.

Se permita e escreva,
Se mostre ao mundo,
Poeta Elis, você é demais.

Visões de uma caminhada


Andando pelo caminho a pé como há muito tempo não fazia pensei em fazer a parada rotineira para um café, mas antes de parar, ao meu lado andando eu avistei a moça que um dia vira trabalhando na padaria, era a confeiteira. Aumentei meus passos para companha-la e ver de perto aquelas lindas mãos que já me encantara desde o primeiro bolo que comi feito por ela.

A moça dos confeitos parecia estar com pressa, pois suas passadas eram vigorosas como as de quem tem hora marcada e não quer se atrasar. Eu que minutos antes andava calmo olhando tudo ao meu redor, mudei o ritmo do caminhar, mas antes vi e senti que as ruas são mais bonitas quando se anda a pé, vi que alguns motoristas dão passagem para pedestres, me perdi na atmosfera dos passantes que eram muitos, mas me atentei nas varandas de duas casas geminadas na calçada esburacada que eu passava e percebi que os pisos eram iguais, lembrei-me dos pisos que via em minha infância, era um chão de cimento forrado de cacos de azulejos vermelhos, essa visão me trouxe lembranças imortais. Uma lágrima de saudade quase caiu quando percebi que por pouco ia me perdendo da confeitaria que já atravessara a praça e eu ia fincando para trás.

Acelerei o passo e passei por um banco de madeira escuro que havia a minha frente onde dois senhores falavam sobre suas vidas, desviei de uma roda de crianças que estavam a brincar. Queria ali ficar para poder voltar mesmo que em pensamento para uma época boa que ficou para trás, época que as brincadeiras nas praças, ruas e terrenos baldios ultrapassavam o pôr do sol e se prolongavam sempre além do combinado com os pais, mas lembrei que estava com outro propósito naquele momento e segui em frente par ver alguns segundos depois a dama que adoçava minha boca com seus confeitos entrar na padaria.

Entrei um pouco depois na Larimer Pães e Doces, vi várias mesas vazias, mas sentei em um banco alto no balcão, pedi o meu café e esperei durante alguns minutos novos bolos chegarem à vitrine colorida.

A reposição dos bolos e doces começou e estava sendo feita por ela, vi no seu uniforme limpíssimo, mais branco que o açúcar, um broche contendo um nome que prontamente li e falei em voz alta: “Joana”, ela me olhou, sorriu e perguntou-me: “o que desejas?”. Fiz meu pedido e tentei ir além num dialogo com ela, mas notei que já estava atrasado para o trabalho, retornei para a minha caminhada e vi a minha frente mais uma jornada de trabalha tendo em minha mente pensamentos e lembranças sobre tudo que vi, enquanto a pé eu andava em São Paulo num fim de tarde ensolarado.

Gui Batista

quinta-feira, 8 de maio de 2014

O que vivi em um sonho


Despertei de um cochilo no fim de uma sonolenta manhã de quinta feira depois de já ter dado aula as seis, fato que me forçara a sair da cama às cinco horas da madruga, antes mesmo de eu ter deixado o sono que me persegue há dias ir embora.
Acordei novamente e dessa vez um pouco assustado com um longo sonho que tive em alguns minutos de sonos que pareciam eternos. Sonhei que me rendia ao capitalismo e me vi com aquela sede de ganhar dinheiro a qualquer custo que nos é imposta para que possamos ser iguais uns aos outros nesse mundo de fachadas em que vivemos.
Quis e consegui uma fortuna, como eu não sei, mas consegui e por incrível que pareça minha vida mudou, flutuei e me vi do alto, eu era um jovem em rápido processo de envelhecimento, roupas cinza, acho que era um terno cobrindo um corpo que se modificava dando origem aparência repugnante e a uma barriga protuberante.
Percebi que, ao mesmo tempo em que eu me arrastava pela selva de pedra, ela se arrastava para dentro de mim, meu antigo jeito manso e doce que não via maldade em quase nada, foi endurecendo e dando lugar a um ser com uma face lânguida, coração gélido e  pensamentos que eu nunca antes havia pensado.
Os intermináveis minutos de cochilo quase foram interrompidos por mim, antes de eu ao menos saber onde aquilo que eu tinha me tornado ia chegar, mesmo sonhando lembrei que precisava raspar a cabeça para tentar disfarçar os fios brancos que já brotavam como gramas albinas em meio a meus cabelos pretos.
O sonho continuou por um minuto que se perdeu na imensidão do tempo, pois nunca chegara ao fim e assim pude ver que por conta de uma coisa que nunca quis como prioridade na vida, eu envelhecia e mudava minhas essências. Vi lá do alto meu corpo irreconhecível, não mais andando e sim cambaleando, com notas de dinheiro transbordando dos bolsos traseiros das calças, eu estava indo atrás de amor e carinho, coisa que há muito tempo não via, mas não achei em nenhum lugar e estava prestes a entrar em um...
Acordei por pensar que já estava atrasado para ir trabalhar e antes do minuto perdido achar o caminho do fim, me precipitei e o sonho encerrei sem saber onde entrei. Na verdade atrasado não estava e ao acordar constatei que mal havia dormido.
Analisei e reanalisei tudo que sonhei e cheguei à conclusão que é melhor viver do jeito que estou vivendo, sem muito dinheiro, mas com muita paz e amor. Não precisamos de muito dinheiro, só do suficiente.