Um poeta louco que sonha como poucos

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quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Vivi ou sonhei

Olhei para um lado, olhei para o outro e não vi ninguém, logo vi que tinha tirado a sorte grande, pois a minha frente o mar estava clássico, ondas de tudo que era jeito, ondas grandes, pequenas, direitas, esquerdas, tubulares e com muito tempo de duração.  Corri pra água e comecei a remar, passei a arrebentação com uma facilidade que até eu mesmo não acreditei e olha que o mar estava bravo. Cheguei lá fora, sentei sozinho e vi a série entrar, remei na primeira onda, dropei e logo de cara peguei o melhor tubo da  minha vida. Na segunda onda dei aéreo, floater, várias batidas, muitas rasgadas e a onda parecia não acabar.
 O dia estava realmente incrível, nem vi as horas passarem, havia entrado no mar lá pelas oito da manhã, quando saí já eram quatro da tarde e eu estava morto de fome,  mas não me sentia cansado. Procurei um restaurante, pedi um prato trivial e aguardei tomando um suco. O prato chegou e tudo estava uma delicia, o arroz, o feijão, a salada e o peixe então hum. Foi uma ótima refeição pra um surfista com fome.
Depois de me alimentar voltei pra praia, sentei na areia para fazer a digestão e notei vindo do mar, uma mulher que mais parecia uma onda, devido às curvas de seu corpo escultural e queimado de sol. Ela veio, sentou-se ao meu lado e com uma voz macia perguntou meu nome, prontamente respondi que era Cody e ela disse que ficara o dia todo ali sentada me observando dentro do mar, disse que nunca viu ninguém surfar  como eu e me encheu de elogios.
Conversamos até o anoitecer, ela se chamava Keona, vimos o sol se pôr no mar,             presenciamos a subida da lua aos céus e quando eu estava lá todo feliz ao lado daquela que pra mim apareceu como uma princesa vinda dos mares, vi uma estrela cadente cruzar o céu e como uma criança fiz um pedido em segredo, pedi em meus pensamentos aquilo que mais desejava naquele momento e como num conto de fadas, choveu estrelas quando me virei para o lado e Keona me deu um beijou junto com um abraço apertado.
Depois disso tudo, desse dia maravilhoso, fui para casa e Keona também, mas    antes combinamos de nos reencontrar outras vezes no mesmo lugar. No caminho de  regresso para o meu lar, parei para tomar um pote de açaí em uma barraca havaiana, ali no meio do beco entre a praia e a estrada do Cambury. Olhando o cardápio, notei que cada opção levava o nome de uma mulher do Havaí e logo abaixo entre parênteses havia o significado dos nomes. Escolhi o de sempre, açaí com banana e o nome me fez tremer, pois era o mesmo da princesa que há poucos minutos conquistara meu coração. Li o significado que dizia assim: “ Presente estimado por Deus”.
Esvazie o pote, deixei a barraca havaiana para trás e percebi que tudo que vivi    naquele dia foi realmente um presente de Deus. Como num passe de mágica a minha  essência se separou da minha matéria física e flutuou três metros acima de mim mesmo,  observando o andar tranquilo de um surfista feliz da vida, carregando sua prancha  em baixo do braço, vestindo ainda sua roupa de borracha, altas horas da noite por aquele   beco iluminado e abençoado.


Gui Batista    

Visões de uma caminhada



            Andando pelo caminho a pé como há muito tempo não fazia, pensei em fazer a    parada rotineira para um café, mas antes de parar, ao meu lado andando eu avistei a moça que um dia vira trabalhando na padaria, era a confeiteira. Aumentei meus passos para acompanha-la e ver de perto aquelas lindas mãos que já me encantara desde o primeiro bolo que me servira um dia.
A moça dos confeitos parecia estar com pressa, pois suas passadas eram vigorosas como as de quem tem hora marcada e não quer se atrasar. Eu, que minutos  antes andava calmo, olhando tudo ao meu redor, mudei o ritmo do caminhar, mas antes vi e senti que as ruas são mais bonitas quando se anda a pé, vi que alguns motoristas dão  passagem para pedestres, me perdi na atmosfera dos passantes que eram muitos, me atentei as varandas de duas casas geminadas na calçada esburacada que eu passava e  percebi que os pisos eram iguais, lembrei-me dos pisos que via em minha infância, era  um chão de cimento forrado de cacos de azulejos vermelhos. Essa visão me trouxe lembranças imortais. Uma lágrima de saudade quase caiu quando percebi que por pouco quase perdi de vista a confeitaria que já atravessara a praça enquanto eu ficava para trás.
Acelerei o passo e passei por um banco de madeira escuro que havia a minha frente onde dois senhores falavam sobre suas vidas e desviei de uma roda de crianças que estavam a brincar. Queria ali ficar para poder voltar mesmo que em pensamento para  uma época boa que ficou para trás, em que as brincadeiras nas praças, ruas e terrenos baldios ultrapassavam o pôr do sol e se prolongavam sempre além do combinado com   os pais, mas lembrei de que estava com outro propósito naquele momento e segui em   frente par ver alguns segundos depois a dama que adoçava minha boca com seus confeitos entrar em seu local de trabalho.
Entrei um pouco depois na Larimer Pães e Doces, vi várias mesas vazias, mas sentei em uma banqueta alta no balcão, pedi o meu café e esperei durante alguns  minutos, novos bolos chegarem à vitrine colorida.
 A reposição dos bolos e doces começou e estava sendo feita por ela, vi no seu uniforme limpíssimo, mais branco que o açúcar, um broche contendo um nome que,  prontamente li e falei em voz alta: “Joana”, ela me olhou, sorriu e perguntou-me: “o que desejas?”.   Fiz meu pedido e tentei ir além num dialogo, mas notei que já estava    atrasado  para o trabalho, retornei para a minha caminhada e vi a minha frente mais uma  jornada na academia que dava aulas, tendo em minha mente pensamentos e lembranças sobre tudo que vi, enquanto a pé eu andava, em São Paulo num fim de tarde ensolarado.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Cena final


Todos os dias, um homem ensaiava sua cena final na sacada de sua casa que ficava em cima daquele bar amarelo que sempre olhei com a cara encostada na janela frontal da academia onde eu fingia trabalhar, todas as tardes sem fazer nada, lá no bairro da Mooca tempos atrás.

Com um copo na mão, o homem se apoiava na pequena mureta que batia em sua cintura e se balançava para frente e para trás. Na época, acreditei que ele dançava alguma música, mas logo comecei a perceber um sintoma expressivo de autismo. Ele girava um liquido transparente que de longe eu não conseguia saber se era água, vodka ou alguma cachaça. Em seguida ele numa golada só, esvaziava o copo e entrava rapidamente num dos cômodos que estava logo atrás de suas costas.

Não fiquei muito tempo trabalhando naquele local que cada vez mais, parecia me levar para o fundo do poço profissional, por isso, não fui um entre vários na plateia que viu aquele homem dar um salto pra fora de sua triste rotina de ensaios e cair na gandaia no bar logo abaixo de sua casa.

Gui Batista

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Ciganos


Tendas e barracas armadas
Na beira do caminho
Em uma noite enluarada,
Música cigana ecoando no ar.

Homens, mulheres e crianças
Todos a dançar.                                               
Um povo, uma cultura,
Um laço de irmandade
Que não deixa
Aquele povo se separar,
Mesmo estando sempre
Pra lá e para cá.

Vi e senti tudo isso
Da janela de um ônibus,
Na beira da estrada
Quando estava a viajar.
Queria naquela comunidade ficar,
Com eles o mundo andar
Sem rumo e sem plano.
Me deu vontade
De ser cigano.