Um poeta louco que sonha como poucos

Seguidores

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Surpreendente fim



Acordou cedo como não era de costume, olhou pela janela de seu quarto e viu que o dia não estava quente, não estava frio, não estava chovendo e também o tempo não estava tão seco.
Parecia mais um dia normal na grande metrópole, cheia de prédios, avenidas, viadutos e pessoas correndo sem parar, cada um vivendo suas vidas de maneiras que acreditavam ser a ideal.
Sal lavou o rosto, ligou o rádio na cozinha, fez seu café, passou manteiga no pão e comeu, ouviu as mesmas notícias e músicas de sempre, mas quando estava prestes a mudar a chavinha de liga e desliga do aparelho sonoro para a posição off, ouviu uma notícia que para muitos ouvintes foi um verdadeiro choque.
Sal tomou um banho, se arrumou e decidiu ir naquele dia, que era um sábado, aos mesmos lugares que costumava ir desde sempre. Desceu até o estacionamento, ligou o carro e partiu. Passou na casa de familiares, amigos e no meio do caminho buzinou e cumprimentou vários conhecidos do bairro.
A manhã ia se esvaindo, ao mesmo tempo em que ele notava pessoas com rostos tristes, com fisionomia demonstrando apreensão.  A hora do almoço passou enquanto Sal se deliciava com uma boa refeição na padaria de costume, acabou de comer e enquanto se preparava para ir para outros lugares, notou pessoas que nunca tinha visto antes por ali, que por consequência da notícia transmitida pela manhã decidiram ir pra lugares diferentes ao invés de ficar em casa.
Era muita gente falando uns com os outros e alguns consigo mesmo, falavam que se soubessem que tudo ia acabar naquele dia teriam feito tudo diferente, como se alimentado melhor,  praticado mais atividades físicas, se relacionado melhor com os familiares, colegas e amigos, viajado mais, trabalhado com o que gostavam de fazer e não jogariam suas vidas fora por conta de trabalhos que consomem seus dias e suas noites sem uma folga sequer.
Via-se uma multidão querendo viver tudo o que tinham pra viver em um único dia, filas se formavam em guichês de rodoviárias e aeroportos, ônibus todos lotados tentando levar para algum lugar pessoas com a alma transbordando de vontades e sentimentos.
Sal pegou seu carro e dirigiu tentando chegar até o bairro que costuma frequentar, mas se viu quase que impedido, pois ficou horas e horas para vencer os doze quilômetros que separam a Vila Formosa de Itaquera. As ruas pareciam um verdadeiro estacionamento a céu aberto, milhares de carros em filas e filas formando o maior congestionamento da história, como não tinha muito jeito de escapar do trânsito, o melhor que ele fez foi pensar em sua vida e tudo que já tinha feito nesses trinta e poucos anos, pensou nas várias viagens, para praia e para o interior, lembrou de suas aventuras em ilhas sem eletricidade e veio a sua cabeça as lembranças de todas as estradas que passou, todas as pessoas que conheceu pelos caminhos.
Recordou de tudo que estudou, por que sonhou com aquilo, e não por que a sociedade impôs, dos amigos que fez na faculdade, de todos os trabalhos que teve e percebeu que nunca teve muito dinheiro, mas sempre teve tempo de sobra pra curtir a vida, que pode ter sido simples, mas muito bem aproveitada.
Lembrou de todos os bares que passou como cliente, como funcionário, como poeta declamando suas poesias, ou buscando inspirações para novos textos, de todos os músicos que encontrou na boemia e veio a sua mente todas as namoradas que arrumou nos bares da vida.
Viu com suas lembranças que tudo que fez, valeu a pena pelo simples fato de ter sido feito. Notou que a vida podia acabar com ele ali dentro daquele carro em meio ao tráfego lento, mas ficou feliz e viu que não precisava se desesperar, pois não havia deixado de fazer nada que queria ao longo dos anos.
Quando Sal chegou ao seu destino, viu que muitos que deixaram pra viver a vida que realmente queriam ter vivido, nos últimos instantes, acabaram vendo seus sonhos ficando pelo caminho, pois não havia mais tempo pra nada e ali no meio da avenida, desejos profundos e não realizados foram podados e um último suspiro em meio à poluição foi forçado a sair.
O tempo se esgotou e o dia derradeiro se apagou aos poucos, muitos não tiveram tempo de fazer tudo o que queriam e viram a notícia veiculada pelo rádio se tornar realidade, mas em meio a triste humanidade que perecia, via alguns sorrisos de alegria, eram poucos, mas existiam.
Os raros sorrisos pertenciam aos que viveram a vida que queriam todos os dias que aqui na terra habitaram. Sal não suspirou, mas sim, sorriu por que viveu.




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Estou aguardando seu comentário, ficarei muito feliz em saber sua opinião.
Quem quiser seguir o blog e comentar fique a vontade. O autor agradece. É bem simples, só adicionar o comentário, selecionar no campo "comentar como" escolher umas das opções ou anonimo. O comentário só é enviado quando vc digita o código de segurança que aparece ai no campo e confirmar o envio