Um poeta louco que sonha como poucos

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quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Ritual do surf

Cinco da manhã, Cassio acorda antes do despertador e dá um pulo da cama, ansiedade a mil. Toma um banho com a mente acelerada cheia de ideias. É segunda feira, um dia normal para muitos, mas para ele é o tão esperado dia de folga e dia de bate e volta na praia.
De banho tomado e o sono espantado, ele arruma sua mochila, faz alguns lanches para comer antes de sair de casa e para levar na estrada. Tudo pronto e colocado no carro, ele entra novamente em casa e pega o que faltava, justamente o mais importante que é sua prancha 6.6, gho rack em cima do carro e inicia sua jornada.
Na noite anterior, combinou com mais dois parceiros de trip sobre o horário de partida e na hora marcada todos se encontram, ajeitam as bagagens e empilham mais duas pranchas em cima da que já estava devidamente acomodada.
Em dez minutos o carro cheio de sonhos, anseios e desejos alcança a estrada e desliza como se fosse um barco a caminho do mar, levando tripulantes ávidos por um dia de ondas perfeitas.
O planalto fica pra trás enquanto Cassio pisa fundo no acelerador e sente junto com Cody e Alan seus ouvidos tamparem enquanto iniciam a descida da serra. O cheiro no ar muda rapidamente nesse momento, o que entra pelo nariz é um misto de cheiro do mato com terra molhada, o som que toca no rádio é surf music e tudo ali dentro do carro é só surf.
Saíram da Mogi-Bertioga, pegaram a Rio- Santos, pararam em diversas praias e por fim decidiram em uma ficar. Carro estacionado bem próximo a areia, nessa hora começa o ritual.

Transcrição da gravação realizada durante um dia de treino – O ritual

Em uma noite de janeiro, verão e calor na cidade de São Paulo, lá estava Cassio em sua batalha diária dentro de uma academia. Ele corria na esteira enquanto eu me aproximo e o cumprimento como fazia todos os dias.
Gui – E aí como você “tá”?
Cassio – “To” bem professor, mas Gui, eu ia estar melhor se tivesse vendo um surf ali na tv.
Prontamente eu fui e troquei de canal, coloquei em um que a programação gira em torno do mar e do surf. Por mim só deixaria nesse canal, mas como outras pessoas querem ver outras coisas temos que às vezes trabalhar ou treinar vendo o que não queremos.
Cassio – Aí sim! Agora fico mais uma hora aqui, sou louco por surf e qualquer dia você vai comigo.
Gui – Opa claro que vou, preciso recomeçar do zero, desse ano não passa, vou cair no surf.
Cassio – Meu é muito bom, “cê” vai ver o ritual antes do surf, meu é muito louco. CCCCCSSSSSSS, primeiro que “cê” não dorme na noite antes do bate e volta, “cê” fica lá deitado, vira pra cá vira pra lá e nada do sono vir, a cabeça fica a mil, fica pensando como vai “tá” o mar, se vai tá bom, onde vai ser a caída, aí depois da noite toda assim, você dorme  só um pouco  e ainda consegue acordar antes do despertador as cinco da madrugada. Aí começa, tomar um banho, come alguma coisa, arruma a mochila,  leva tudo pro carro e volta pra pegar o mais importante, a prancha. (Nesse momento ele pega o celular e mostra a foto de sua prancha) Aí “ó”, esse é meu foguete CCCCSSSSSS, meu essa prancha “tá” uma delicia de surfar “cê” tem que ver, qualquer dia “cê” vai comigo.
Gui – Vou sim Brow, acho que já “to” até indo agora só de te ouvir contar, já entrei na viagem. RRSSSSR Muito bom, mas continue.
(Ao fundo toca um reggae e na tv altas ondas) Cassio - Olha esse som, olha que tubo, nooooosssssaaaa, então, pego a prancha encapo ela e coloco lá no rack, arrumo tudo, passo na casa dos parceiros e vamos. Meu “cê” precisa ver as caras dos moleques na hora que eu pego eles, é tudo mais novo, eu tô com 45 anos e eles tem tudo 20 e poucos 30 anos. Aí a gente pega estrada, todo mundo na maior adrenalina, chega lá na praia, encosta o carro e nessa hora começa o ritual, meu é igual o ritual de quem gosta de tomar chá, um preparativo do caramba, concentração total. Primeiro "cê" pega a lycra na mochila, veste ela, depois pega a prancha, passa a parafina, mas passa bem passado mesmo pra não escorregar, aí meu, você olha pro mar, Noooosssaaa,  conta as ondas da sério, uma, duas três, nooooossssssaaa, “cê” vê aquelas ondas perfeitinhas rolando, eu fico louco, maluco você não tem ideia, rrrrrsssss. Olho pra um lado olho pro outro, vejo onde posso entrar e vou, meto a prancha na água (em cima da esteira Cassio simula braçadas) dou umas braçadas, passo a arrebenta e aí meu querido, é só sentar lá fora e esperar a boa vir pra você dropar. Lá dentro eu esqueço tudo, sinto o vento na cara, é uma terapia, bom pra caramba. Você vai ter que ir comigo.
Gui – Nooosssa Cassio, vamos quando? Semana que vem?
Cassio – É só você falar que a gente vai. Gui depois que eu volto de uma queda dessa, volto com a cabeça feita, é uma sensação incrível. Mas deixa eu ir lá que eu vou nadar ainda, qualquer hora a gente senta tenho um monte de história pra te contar.
(Nos despedimos, ele vai e eu fico)
Gui – Vai lá, um abraço e vamos marcar, quero ir com você.

Cassio desce as escadas e vai com seus pensamentos para a piscina e eu volto pra realidade da sala de musculação depois de viajar e gravar toda essa história que acabo de contar em minha mente.


Gui Batista

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