Ouço um som, parece música ou algo querendo ser música. Vejo os dias nascerem felizes e irem mais além. Percebo pessoas sofridas colecionando cicatrizes e outras com vidas mais tranquilas, finalmente satisfeitas com o que tem.
Os semblantes já não são mais os mesmos, agora o sorriso sai mais aberto do que antes. Sinto que o frio deu lugar ao calor, mas com certeza em algum canto, hoje alguém chorou.
O mundo a essa altura flerta com o submundo, ameaça com ele se fundir, para assim quem sabe, converter todos os humanos em seres espirituais, mas muitos não dão o braço a torcer, seguem seus caminhos rodando em círculos e sempre voltam para suas gaiolas emocionais.
Agora chego perto do fim de mais uma jornada. Viajando vou caminhante sou. Ouço um som cada vez mais nítido, mas aos poucos percebo que as misturas sonoras aumentam. Distinguir o que toca nesse momento, não sou capaz.
Passaram-se meses, muitas coisas aconteceram. Dor, alegria, dúvidas, certezas, necessidades, ausências, encontros, desencontros e muito mais. Tudo isso dentro de um parêntese que se abriu em um único dia lá trás, bem no início desse período composto por um tempo voraz.
Músicas alegres ecoam, pessoas se animam e esquecem das dores. É quase época de festas, hora de repensar tudo que vivemos, agradecer por tudo que aprendemos e planejar o que virá.
Pra a grande maioria, esse é o momento para corrigir erros deixados para trás, mas o que realmente sinto, é que infelizmente não podemos quase nada fazer em tão poucos dias.
O parêntese aberto já vai se fechar, mais um ciclo em semanas se encerrará e o que irá ficar é o que fomos e fizemos na caminhada.
Como você se portou? Você evoluiu? Você reagiu e lutou contra o que te faz mal? Você fez valer o fato de estar vivo? Ajudou a quem precisava? Você se acomodou e em vez de caminhar assistiu a mais um ano acabar?
O som parou, já não o escuto mais. Tristemente percebo que muitos ao serem indagados, não resistiram e por conta de suas respostas não cantam mais. O pior que já é dezembro, não temos tempo pra mais nada, esse ano já foi e não voltará jamais. A euforia deu lugar ao silêncio na vida de quem não lutou.
Gui Batista