O jiu jitsu é uma luta
predominantemente técnica, podemos ver atletas mais fracos vencendo oponentes
bem mais fortes.
Quando vamos a uma competição, só
conseguimos ver tudo que acontece lá com os olhos da arte.
Certa vez estava eu em um
campeonato mundial na cidade do Rio de Janeiro, tudo corria bem, as
atenções de todos que lotavam o ginásio eram bem divididas pelas oito áreas de
lutas onde aconteciam as lutas simultaneamente.
Uma luta empolgante acontecia na área
um, era de faixa branca. Movimentação constante, típica de iniciantes, de quem
não podíamos esperar muita perfeição nas técnicas, mas a luta era boa.
Na área dois via-se uma bela luta
de faixas azuis, era queda pra cá e queda pra lá. Eram do peso pena, isso
mesmo, aquela categoria que os lutadores não param nenhum minuto.
Na área três os faixas roxa iam
começar a lutar na hora em que minha atenção voltou-se para eles. No início a
luta foi muito estudada por ambos os lados, fazendo com que o árbitro
interrompesse o combate para pedir mais ação. A partir daí se viu um show de
técnica por parte dos dois.
Na área quatro estavam nada mais nada
menos que os marrons, nesta faixa começam a aparecer aqueles que vão dar
trabalho para os faixas preta no futuro. Era a final da categoria médio, uma
das mais disputadas. Foram sete minutos eletrizantes, começando com uma queda
de um lado, uma raspagem do outro e esse mesmo que raspou ainda passou a
guarda. Por volta dos seis minutos de luta o rapaz que deu a queda no início,
estando em desvantagem e o tempo esgotando, tirou forças para repor a guarda e
começar uma movimentação intensa em busca de uma finalização. De repente ele
encaixa um triangulo perfeito, seu oponente tentou resistir, mas não deu e teve
que bater.
Sai do ginásio correndo para
comer alguma coisa, fui correndo mesmo, pois se demorasse a voltar, talvez pudesse
perder o principal do espetáculo, o absoluto faixa preta.
Quando retornei para o interior
do ginásio com a fome saciada, percebi que da área cinco até a área oito já
estava acontecendo o tão esperado absoluto preta.
Me acomodei na arquibancada e me
deleitei com uma verdadeira obra de arte protagonizada pelos atletas, as
finalizações saiam a toda hora e eu não conseguia olhar só para uma luta, todas
eram emocionantes e assim foi até as disputas das semifinais.
Quando saíram os dois finalistas,
o campeonato parou, o ginásio escureceu e nas áreas de lutas não se via mais
nada.
O presidente da federação
apareceu sob um facho de luz e falou: “As
luzes acenderão dentro de dez minutos e vocês verão o maior espetáculo de suas
vidas”.
Passados os dez minutos, é iluminada
apenas uma área, a central com os dois finalistas do absoluto faixa preta.
Um era magro e baixo, mas tinha uma técnica
apurada. O outro era alto e forte e também com uma ótima técnica. Não era por
menos que os dois iam disputar o titulo mais cobiçado por todos.
Um apresentador com microfone em
mãos fala os nomes dos lutadores. O magro e baixo era o Kaue e o forte e alto
era o João. Logo em seguida tem inicio o combate.
A luta ia ser disputada em dez
minutos, todos se perguntavam o que seria do Kaue. As forças eram
desproporcionais.
O forte começou dando uma queda
no fraco, logo em seguida passou a guarda, mas o fraco era valente, não se
entregava e resistiu bem, mas não impediu o joelho no abdômen e tomou mais dois
pontos.
Tinha se passado metade da luta e
o final já era previsto, mas o fraco não desistia, conseguiu tirar o joelho que
estava em sua barriga e logo em seguida repôs a meia guarda.
Todos que assistiam pensaram que
ele ia ficar travando a luta na meia guarda para não ser finalizado. Mero
engano, aquele rapaz franzino aplicou uma bela raspagem, partiu para uma passagem
logo em seguida, insistiu tanto na movimentação que acabou passando,
estabilizou a posição faltando um minuto para o fim da luta.
João o grande e forte, se
defendia e pensava: “estou na frente e
não vou ceder mais nenhum ponto”.
Faltavam trinta segundos, a luta
estava sete a cinco para João o forte, toda sua torcida comemorava a sua
vitória, faziam até uma contagem regressiva, trinta... vinte.. e quando faltavam dez segundos, aconteceu o
inesperado, Kaue o franzino que estava na posição cem quilos e dali não saia desde que conquistou a posição, aplicou
um estrangulamento de lapela e nesse momento a contagem cessou e o que se ouvia
eram os gritos de uma torcida eufórica dizendo: “Uh vai pegar, Uh vai pegar, Uh
vai pegar...”.
Faltando apenas dois segundos,
todos os presentes naquele local presenciaram a cena que todos acreditavam que
não iam ver. João o fortão, bateu três vezes no chão, desistindo assim do titulo
mais importante do campeonato.
Aquelas lutas mostraram o quanto
o jiu jitsu é técnico e não força bruta, um verdadeiro espetáculo chamado
também de arte suave onde os seus praticantes são os artistas.
Autor: Guilherme Batista Emidio